O primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, reiterou ontem a “posição clara” do PS pelo diálogo à esquerda, “numa base construtiva e sem ultimatos”, vincando, ainda, a existência de um “mundo” de diferenças e valores políticos entre os socialistas e um PSD cada vez mais “condicionado” pela agenda do Chega.

“A posição do PS é clara: Diálogo à esquerda numa base construtiva, séria, sem ultimatos ou dramatizações”, afirmou António Costa, em declarações aos jornalistas na sede nacional do partido, em Lisboa, após a entrega das moções de orientação política ao XXIII Congresso.

Sublinhando que esta tem sido, desde sempre, a posição do PS, António Costa advogou que a negociação política, a que não fugirá à regra a do próximo Orçamento do Estado, exige uma disponibilidade idêntica das partes.

“Quem se senta à mesa a dizer que não recua em nada, verdadeiramente não quer qualquer acordo, procurando antes impor um ultimato, o que não seria aceitável”, observou.

O líder socialista lembrou, neste contexto, que por altura da última negociação orçamental, em 2020, algumas pessoas, nomeadamente no Bloco de Esquerda, “estavam muito convencidas de que, no atual cenário de crise, o PS ia ficar isolado na Assembleia da República, sendo incapaz de gerir a crise económica e social sem recorrer a medidas de austeridade, sem cortar salários ou aumentar impostos”.

“Mas têm vindo a ficar surpreendidos por termos cumprido que a austeridade não é o caminho e, pelo contrário, termos uma política de reforço do investimento público, de proteção do emprego como prioridade das prioridades e de proteção do rendimento das pessoas”, sublinhou António Costa, recordando que PCP, PAN e PEV viabilizaram o Orçamento, assim como as duas deputadas não inscritas, e que “quem ficou isolado foi o BE, que votou sozinho ao lado da direita”.

“Há um mundo de valores que nos separa do PSD”

Perante os jornalistas, o líder do executivo socialista traçou, por outro lado, uma linha de demarcação política muito clara entre o PS e o PSD: “Efetivamente, há um mundo que nos separa, o que é muito bom”.

António Costa deu como exemplo a reforma da justiça, deixando uma interrogação e um desafio sobre o que pretende o atual líder do PSD discutir sobre este tema.

“Quer discutir a reforma da justiça económica para assegurar uma justiça célere que garanta que as empresas podem ter confiança no cumprimento dos contratos, tal como está previsto no Plano de Recuperação e Resiliência, ou quer discutir coisas como a composição do Conselho Superior da Magistratura, porque não gosta do Ministério Público e da independência do poder judicial? Isso não é importante para os portugueses”, apontou.

A recente convenção do MEL (Movimento Europa Liberdade) também não escapou ao crivo do líder socialista, apontando que, ao longo de dois dias de “reunião da direita, não se falou de um único problema que dissesse respeito à vida dos portugueses”.

“Falaram de problemas que apenas dizem respeito a eles, num concurso de feira de vaidades para saber se regressa o antigo, se aparece um novo ou se mantêm o atual. Estão entretidos nas vaidades”, comentou.

Lembrando que “é bom para a democracia” que existam alternativas que se apresentem de forma clara aos portugueses, António Costa não deixou, contudo, de considerar “perigoso se algum dos principais partidos – o PS ou o PSD -, em vez de afirmar a sua identidade, se deixa condicionar pela agenda política de outros”.

“Manifesto preocupação com a qualidade da democracia pela forma como o PSD se tem deixado condicionar e aprisionar pela agenda do Chega. Isso é que é perigoso, porque enfraquece a alternativa do PSD”, acentuou.

O Secretário-geral do PS acrescentou ainda que este condicionamento do principal partido da direita à agenda de um partido extremista como o Chega, e ao contrário do que tem sido dito por alguns comentadores, não é sequer benéfico para o PS, porque enfraquece a democracia.

“Dizem que até é bom para o PS, porque assim muitos eleitores da área mais do centro, que às vezes votam PS e outras no PSD, se sentem mais confortáveis para votar no meu partido. Do ponto de vista partidário, até pode ser útil. Mas para a democracia é mau. Deve haver uma clara fronteira entre os que estão do lado da democracia e os que estão do outro lado”, concluiu.

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